sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Blog Roberval Paulo: PEDRO QUEROSENE - Roberval Paulo

Blog Roberval Paulo: PEDRO QUEROSENE - Roberval Paulo: Crônica em homenagem ao saudoso Pedro Querosene que conheci em Aliança do Tocantins. Escrevi por sugestão da jornalista amiga Luciene Mar...

PEDRO QUEROSENE - Roberval Paulo

Crônica em homenagem ao saudoso Pedro Querosene que conheci em Aliança do Tocantins. Escrevi por sugestão da jornalista amiga Luciene Marques, a quem agradeço imensamente. Leiam o texto completo abaixo.
Luciene Marques está com Roberval Paulo.
Crônica publicada na última terça-feira, 13, no Jornal do Tocantins - Por Roberval Paulo.
Gratidão ao amigo Roberval por ter cumprido uma promessa em meu lugar, a de produzir uma crônica sobre o nosso saudoso Pedro Querosene. Além de me salvar, presenteou a todos nós com uma leitura maravilhosa, sem igual, uma homenagem de encher os olhos de beleza. Queremos mais! Leia o texto completo abaixo:
PEDRO QUEROSENE
Aliança do Tocantins, cidade cravada no centro-sul do estado do Tocantins, porém bem mais povoada e influenciada pelo povo da banda do norte/nordeste, carrega em suas ruas e calçadas todos os jeitos e gostos das gentes de lá. Cortada bem ao meio pela BR 153, na altura do quilômetro 646, com pouco mais de cinco mil habitantes, é quase a “Cidadezinha qualquer” de Carlos Drummond de Andrade, com tudo indo bem devagar. Povoado formado quando do rasgo rodoviário aberto no coração e veia central do Brasil, nas obras da BR 153 do governo Juscelino Kubitschek, atraindo um grande número de migrantes vindos principalmente do Maranhão à busca de novos ares. Cidade comum de gente comum, em sua maioria de sertanejos, dito aqui na mais nobre acepção da palavra. Pessoas estas de hábitos e costumes simples como os seus lugares.
Cidade de tantos e quantos, como também cidade do senhor Pedro Querosene, alcunha que recebeu quando de um tombo com direito a banho de querosene em razão de excesso no gole. Cidadão forjado em homem no labutar simples da roça, à custa de foice e enxada, de ordem e suor, de disciplina e responsabilidade, valores estes encrustados no existir das gentes do sertão. Acometido da perda de visão em razão de glaucoma que não perdoa nem olhos mais abastados do capitalismo, não se dobrou a enfermidade, mantendo sua independência e locomoção por tudo quanto é canto sozinho e com alegria.
Pois sim, traçando um perfil do senhor Pedro Querosene: homem esguio, estatura mediana, moreno claro, cabelos encaracolados e curtos, rosto sulcado de feição sofrida, enfim, o típico “caboclo do sertão e excluído da república” como bem definiu Euclides da Cunha em Os Sertões. No mesmo tempo que expõe a rudeza e simplicidade no falar, carrega em si o dicionário e vocabulário do anedotário sertanejo, exprimindo uma sagacidade e alegria que contagia quem se dispõe um pouco a compartilhar de sua companhia. Melhor do que caracteriza-lo e enche-lo de adjetivos é contar um episódio deste emblemático cidadão.
Certa feita, lá pelas tantas da tarde, já com sintomas de noite, datando-se por meados do ano de 2015, estava eu a refrescar-me com uma gelada no bar do Raimundo de Gregório, no Jardim Aliança, quando ouço o pisar e falar de Pedro Querosene, cego e sozinho, atravessando a rua, indo como que teleguiado em direção ao bar onde eu estava absorto no aguerrido exercício de copo.
Resmungando alto e tocando seu bastão à frente para guiar os seus passos, deu de esbarrar no veículo estacionado defronte ao bar. Compadecendo-me da situação, a ele me dirigi com o intuito de ajuda-lo na tarefa empreendida rumo ao balcão. Dava mostras de que alguma já havia ingerido e me pegou de conversa como se de longo me conhecesse, numa amizade e liberdade existentes só nas almas de todo desarmadas.
Contou-me alguns infortúnios; dentre estes, o drama da perda da visão, porém sem se lamuriar, quase que agradecendo, pois, graças a este infortúnio, como ele mesmo disse, - “consegui o meu aposento”. Falou-me dos dias de roçado, estendendo-me as mãos calejadas e o quanto já trabalhou pela “dignidade do Brasil”, palavras dele.
Disse-me do casamento, dos filhos, da separação e da atual mulher, razão ainda dos seus rompantes e levantes de homem, porém sem conseguir disfarçar uma preocupação com o comportamento desta que muito gosta de sair por aí e é amante também de uma boa cangibrina. Ao referir-se a ela, veio-lhe de súbito uma raiva evidenciando o quanto dela tem ciúme, lançando a ela alguns adjetivos que me furto aqui revelar. Varamos a noite no assunto passional, regado a goles e gargalhadas e no resmungar característico de Pedro. Despedimo-nos refeitos e com glórias do labutar inglório e Pedro partiu.
Lamentavelmente Pedro Querosene não está mais entre nós e suas alegres e soltas palavras não mais ressoarão aos nossos ouvidos a não ser pela memória. Mas, no plano que estiver, estará reluzindo o seu doce existir.
Roberval Paulo

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A INCURÁVEL CURA - Roberval Paulo


Meu olhar cinzento se engasga na lonjura do nada
A noite desce amarga qual notícia trágica de jornal
Mas amada, muito amada!
É ela que me cura da cura incurável
A incurável cura de misturar metafísica e sonho
De pendular entre realidade e abstração

Tô cansado do caminho que não fiz
Aquele caminho que só pensando se chega
O ser em viagem mística e cigana
Transpondo barreiras do cosmos
Os pés cravados no verde
O verde no mar
O mar dos teus olhos
Teus olhos de mar!

A noite me conta segredos
Segredos guardados em dias que estão por vir
Meu desafio tem meu nome
Sou eu batalhando em Stalingrado
Resistindo pra nessa guerra por fim

O copo que me assiste me sorri
Entrego-me ao seu convite
Trago narcisista, quase fascista,
altruísta, insaciável
Whisky abranda até torpor
Não sou alheio à dor

Da janela a noite vai se dissipando
Reluto ao primeiro raio da manhã
Me encontro na última estação de mim
Onde desapeio sem ter chegado ao fim
A aragem me saúda no seu passar
E me diz do sol que há de brilhar mais uma vez

Dia novo, sou novo
Sou outro, mas continuo em mim
É o despertar de um quase sonho
É o real que de mim quis desistir.

Roberval Paulo

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Blog Roberval Paulo: CONCEITUAÇÃO! - Roberval Paulo

Blog Roberval Paulo: CONCEITUAÇÃO! - Roberval Paulo: Meus conceitos não são velhos Velho é me conceituar Velho é tecer conceitos A quem não segue conceitos Pois conceitos não são f...

CONCEITUAÇÃO! - Roberval Paulo


Meus conceitos não são velhos
Velho é me conceituar
Velho é tecer conceitos
A quem não segue conceitos
Pois conceitos não são feitos
Para as gentes bitolar
Quando muito, pra lembrar
Que o conceito conceitua
Mas nele não se acentua
O acento do caminhar
Pois que a luz do estradar
É o reflexo do passante
Chega a ser entediante
A quem negligenciar
Que a ordem conceitual
Não vá te desordenar


A rua rima com lua
Mais só uma é de andar
A outra é pra apreciar
Sem um qualquer preconceito
Pois que dentro do conceito
A lua é moça formosa
Pretendente venturosa
Do sol raivoso e sisudo
Que em um conceito mudo
É quase ouro a brilhar
E que no seu viajar
Manifesta sua grandeza
Mas não nos dá a certeza
Que essa airosa grandeza
Mesmo estando posta à mesa
Alguém vá conceituar?

Então não me conceitue
Conceitue, mas assim
Não conceituando a mim
Mas a ti dê seu conceito
Pois dando a ti o efeito
Do conceito dado a mim
Compreenderás enfim
Bebendo o próprio veneno
Adentrarás o terreno
Da consciência moral
Não desejando ao igual
O que não queres pra ti
É só em frente seguir
O caminhar está feito
Pois o efeito do conceito
Não mais irá te ferir.
 
Autor: Roberval Paulo

SACRAMENTO - Roberval Paulo


Se me nascesse jogado
Em colchão de folha seca
Ou mesmo ao som de clarineta
O batismo é o meu sustento
Nem que me fora de ouro
Ou do mineral mais nobre
Veria o sonho de um pobre
Ser mais que qualquer unguento

Mas não seria eu avesso
Sendo a unção dos enfermos
De óleo santo e sagrado
Ungidos ao firmamento
É mais que poder dizer
Ungir-se é se alimentar  
Pois no deserto, Maná
Era Deus ali atento

Sei que não posso parar
Dessa longa caminhada
Pois o porvir da jornada
É ir no passo do tempo
Mesmo que eu não queira amar
Não deixo de prosseguir
Pois a estrada a seguir
É o nosso ordenamento

O sol que me queima a pele
É o mesmo que me encoraja
O rastejar é da naja
Eu me adejo ao vento
A lua tem seus mistérios
A noite clara é um encanto
Ela vestindo o seu manto
Eu desvestido e cinzento

Cantando a canção da estrada
Sigo pisando em espinhos
Há flores em meu caminho
Miragens do meu tormento
No olhar crivo e cortante
Sinto a dureza da vida
Vejo a beleza da vida
Nas verves do sacramento.


Autor: Roberval Paulo

QUASE UM EPITÁFIO, UFA! - Roberval Paulo


Passa por mim o vento com açoites
No meu ser;
É o único a me sorrir ao me despir por inteiro
Me despir dos sonhos que ora já não mais sonho
Da luz que não mais clareia
O meu andar peregrino.

Passa por mim o verde que um dia foi esperança
Uma esperança morta que se fez viva de dor
Da dor de não poder nem mesmo sentir dor
Da dor de não doer o sacrossanto mistério do amor
A lâmina fina que talha o íntimo da alma
A alma indolor.

Passa por mim o sonho
A insônia da surrealidade
Meu espírito ardendo em febre
Meus dias corroídos pela dor social
Pela sede insaciável
Pelo ser desvirtuado
Pelo ter exacerbado
Pela luz que já pagou o seu doce brilho frágil.

Passa por mim a vida
Passa por mim o seguir
Passa por mim o partir
Que a morte não quer nem saber de ti.

Autor: Roberval Paulo

terça-feira, 20 de março de 2018

MEMÓRIAS - Roberval Paulo


Eu hoje ainda me lembro
Da minha bela cidade
Minha doce mocidade
Dos dias que eu fui feliz
Trago em minha lembrança
Um gosto de primavera
No tempo que o tempo era
O tempo que eu sempre quis

Estava sempre a brincar
Corria pelos quintais
No gosto dos laranjais
Sentia o gosto da vida
As tardes todas de festa
Nas águas lá da ribeira
“Passarin” de atiradeira
Uma alegria perdida

Nesse tempo eu não sabia
O que era labutar
Se ia só a brincar
Todas as horas do dia
Nadava, como eu sorria
Sem responsabilidade
A fazenda era a cidade
Onde meu sonho “avoava”
Meu grito denunciava
A minha felicidade

Eram gritos de verdade
Mentira não existia
A natureza sorria
Não tinha ali nem maldade
Hoje só resta saudade
Daquele olhar inocente
O tempo ficou demente
O mundo mostrou sua dor
Feriu de morte o amor
No germinar da semente

Eu que nem imaginava
Existir um padecer
Só alegria e prazer
Meu viver anunciava
A mata virgem cantava
Respondia eu do terreiro
Nesse canto derradeiro
Eu me perdia feliz
Pra o mundo pedia biz
Que tempo manso e ordeiro!

Hoje esse tempo medonho
Saudade é só o que resta
Os dias cantavam festa
Hoje é só tribulação
Se foram sonhos de flores
A alma respira guerra
Na boca o gosto de terra
De sangue no coração

Hoje eu sou qual esteio
Que segura a cumieira
Peso de mil aroeiras
Nas costas de um só cristão
Não quero mais ser lembrança
Quero esse passado agora
Voltar no tempo, na história
Revisitar meu sertão.

Roberval Paulo

PASÁRGADA NÃO MAIS EXISTE - Roberval Paulo


PASÁRGADA NÃO MAIS EXISTE
                                               Ao poeta Manuel Bandeira (in memoriam)

Vou-me embora daqui                                                                   
Daqui pra um outro lugar
Aonde eu possa ter uns seis anos mais ou menos
E todos os meus problemas sejam sonhos de criança

Vou-me embora daqui
Eu sei que há um outro lugar
Aonde eu possa viver sem tudo me incomodar
Aonde eu possa existir existindo de verdade
E possa contar estrelas sem verrugas me nascer

Vou-me embora, vou-me embora, eu sei que já vou embora
Vou porque está em mim o desejo de partir
O lugar já não existe, aqui não existe nada
Não posso mais ser tão triste, preciso me encontrar

E quando a noite chegar
Quero um sonho que amanheça
E quando o dia acordar, eu já distante daqui
Aí vou querer voltar aos seis anos mais ou menos
Aí vou querer viver sem tudo me angustiar

E vou querer existir existindo de verdade
E vou poder encontrar-me no lugar de onde eu vim
E os meus sonhos de criança vou poder recomeçar
E não vou mais ser tão triste, vou até me alegrar

Pois não encontrei Pasárgada
Pasárgada não mais existe
Não vou nem mais querer ter vontade de me matar

À noite só quero amar
À noite só quero amar
À noite só quero amar sem medo de ser feliz
É que aprendi que a vida é a realidade que há
A realidade que é minha
A realidade que é nossa
A realidade da qual
Se vence no caminhar.

Roberval Paulo



PAZ AO RIO E PAZ AO POVO TAMBÉM - Roberval Paulo

A pomba branca da paz alçou o seu vôo e sobrevoou toda a baía de guanabara, na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro e, nos morros da insônia e do desassossego, foi atingida e ferida de morte por balas perdidas e destinadas especificamente para inibir a paz, e esta, chorando a insensatez da humanidade desordenada e sem direção, deixou-se abater e caiu por terra em sono profundo para não mais levantar-se.


Foi-se embora a paz, tragada e morta pela ambição e egoísmo dos seres humanos. Pela maldade e insanidade dos modelos econômicos vomitados pelas estruturas do poder que, podres e corruptas, segregam e excluem a grande maioria dos seus iguais. 

E assim, o caos se instalou e a bandeira negra da dor e do terror espalhou sua legião de seres ante-socializados pela hipocrisia viva e cruel dos homens, pelos becos e labirintos e vãos dos morros e favelas à caça do sangue que de suas entranhas foi retirado à custa de ações massacrantes e perversas contra as massas, arquitetadas pela minoria privilegiada e inescrupulosa e, o conglomerado da miséria humana encheu, encheu que explodiu, fazendo jorrar dos morros para o asfalto a desesperança, o descaso, o medo da existência e a dor aguda da impotência, desencadeando o confronto geral dos que nada tem aos que tudo ganham.

A guerra foi inevitável e o sangue de culpados e inocentes se igualaram na dor das famílias destruídas e a batalha sangrenta teve início quando a descrença venceu o amor e, no rito do cada um por si, na junção da conveniência, venceu o desentendimento total pela selvagem e necessária sobrevivência.

O caminho inverso está sendo feito. Tudo que vai um dia volta, transformado e transfigurado. O que foi levado e semeado pelo desamor da sociedade para com ela mesma retorna agora em ódio e ação contrária à sua própria dor que sangra com o sabor do sangue imprevisível e inevitável.

Não há mais outro caminho. Não tem mais outro jeito que não o enfrentamento dos poderes.
O poder oficial, instituído, legítimo, legalizado menos que irracional e guiado pelos interesses dos seus mandatários e o poder paralelo, também instituído e legitimado pela lei da sobrevivência, alimentado pelas feridas enraízadas n'alma, causadas pelas ações ineficazes e cínicas do poder oficial; ilegal, mas não menos poder enquanto poder de interesses.

Que vença a paz, se isso for possível e que cause o mínimo necessário de dor. 
A dor impossível e revolta que ataca nosso peito a cada novo menino garoto tragado pelo crime. 
A cada nova menina moça pintada pelas cores intrigantes e revoltantes da ascendente e desfigurada prostituição.
A cada pai de família com o peito trespassado pela faca da realidade da vida do filho morto.
A cada mãe com alma e coração sangrando pelos filhos fulminados, alimentados e decaídos pelo indestrutível e periculoso tráfico.
A cada novo ser esperançoso dessa tão desesperançada sociedade, descrente e desencaminhada bem como sedenta e perseguidora voraz da paz tão sonhada e almejada.

Que vença a paz se isso for possível.
Que vença a paz se isso for possível.
Que vença a paz! Que vença a paz!

Enfim, que vença e reine a paz, consumindo, amenizando, suavizando e cicatrizando todas as dores que somos enquanto sociedade em "desevolução", retrocedendo, à procura do seu início. 

Roberval Paulo

OS SENHORES DO DIREITO E SEU DIREITO DESENDIREITADO - Robervval Paulo


Os senhores do Direito, que, direito, tudo tencionavam fazer, viram-se, dentro do Direito, direitamente endireitados a não realizar nada que fosse do Direito, e, sim, tudo o que fosse do direito que não é direito.

Assim então, endireitou-se, no Direito, o direito desendireitado, e, o que era direito, no Direito, passou a não ser direito e sim, direito que não mais se endireita.

Portanto, já não é mais direito tudo o que um dia foi Direito, porém, contudo, todavia, entretanto e no entanto, tudo o que foi direito, dentro do direito, ainda o é, como também, tudo o que não é direito, sendo ou não de direito ou do direito.

Resumindo e virgulando, para clarear, e, tentando melhor explicar, tudo é direito, no direito, inclusive, o que não é de direito ou do direito, desde que ao Direito interesse.

Partindo desta premissa, tudo é direito ao Direito, desde que possa ser visualizado e analisado à luz do Direito, que é a luz direita que margeia o nosso direito torto e que não o é, de fato, o direito do direito e dê direito, e, sim, o direito do nosso interesse no direito.

Roberval Paulo

IDENTIDADE - Roberval Paulo


Sou sozinho
Sim, me sou sozinho neste mundo
Pois não nasci atrelado e nem grudado a ninguém
Saí sim, de minha Mãe, e ela, com toda honra e glória
Pela eternidade da história
É a única pessoa que me tem

Não sou sozinho por gosto nem tão pouco por desgosto
Sou sozinho por ser sozinho e é assim que me sinto bem
Mais sempre preciso de um
E outra vez é dum outro
E a outra vez do outro e do um
E que, simultaneamente, precisam de mim também
Mas neste mundo de meu Deus o que mesmo me alegra
E me conforta e me assossega
São os olhos do meu alguém

Olhos de quem nem conheço
E nem mesmo sei se existe
Neste tempo que é presente
Mais que é amiga do vento
E vive assustadoramente em meu pensamento
Uma imagem reluzente, transparente, incandescente
Rastro de estrela cadente
No rosto do firmamento

Não me entrego a sorrisos
Não sou fácil de entender
Não sei nem o que querer, nem mesmo como querer
E se me queres pretender
Chegue sem me dar aviso
Chegue sim, com um sorriso, um verdadeiro sorriso
Que eu deixo o meu juízo
Pra teu juízo querer

Mais se queres mesmo saber quem sou positivamente
E pela vontade instigante de um momento
Puder em teu pensar repensar meu pensamento
E quiseres não mais me conhecer tão sozinho
Seja em ti um ser de amor e de carinho
Chegue até mim olhos nos olhos, frente a frente
E me dê a sua mão mansa e fraternalmente
E me diga com verdade, muito prazer meu amigo
Que eu seguirei na caminhada lado a lado contigo
E brando e serenamente lhe chamarei também amigo
E transfigurando os sonhos nessa mais terna amizade
Redirecionando a vida no caminhar da verdade
Lá vamos nós, não mais a sós, sorrindo, a cultivar gentes.

Roberval Paulo

A LIVRE INTERNET X O PENSAMENTO LIVRE - Roberval Paulo


Em um tempo bem recente a onda era os correios, as cartas, os velhos postais, meu Deus! Os telegramas até para comunicado de morte; a informação mais segura e codificada do telex e do rádio amador. O mundo evoluiu rápido e com ele, a tecnologia da informação. Evoluiu situando-se na vanguarda de todos os processos.

Por caminhar mais depressa que os outros sistemas, ficou sozinha em seu ambiente e perdeu o passo; perdeu o controle do seu próprio caminhar e se desvirtuou do seu objetivo e fundamento maior que era simplesmente e sempre passar adiante a realidade dos fatos e acontecimentos o mais depressa possível e o mais fielmente possível. A informação se desvirtuou por completo e atende hoje a outros tantos interesses que não só o de informar e se fazer conhecer. No quesito velocidade nada se questiona. Está muito rápido, até mais que os “carros de fórmula 1”.

A questão é a qualidade desta informação e os interesses que ela defende. A informação está ferida de morte e a internet é o ataúde, o caixão, o recipiente, o caldeirão "fervente" que acolhe e abriga tudo. É como a terra. Abriga o anjo tal qual abriga o demônio aos olhos crédulos e incrédulos, atenciosos e alienados, de boa fé e mal intencionados, no teatro protagonizado e dirigido pela humanidade irracionalizada e desumanizada pela selvageria dos interesses materiais e do poder impostos por aqueles que por força da corrupção do ter, já estão, a muito tempo, desprovidos dos valores éticos e morais que ainda deveriam nortear as ações e decisões humanas.

O senso caiu no ridículo e é operado e levado a efeito no fundamento raivoso do instinto. A estratégia e planejamento das ações na disseminação da informação tem como objetivo único convencer; somente convencer sem se importar se há verdade; somente convencer mesmo sendo essa informação um castigo e um pecado para a sociedade.

Estamos vivenciando este momento de cruéis noticiários levianos e insanos que ferem de morte a nossa soberania conquistada a sangue e lágrimas e, a internet, é o palco maior dessa selvagem batalha. Tudo se fala e se escreve mas nem tudo é passível de prova.

Tudo se produz e essa produção fétida e podre é repetidamente cambiada e recambiada para os olhares das pessoas no intuito de vencer pelo cansaço as mentes e corpos já surrados por esta louca e surreal realidade. Ferem a honra de pessoas, a moral de outras e tudo vale pelo desejo macabro do poder. Estraçalham sentimentos, extravasam emoções e brincam com a fé e crença das pessoas, usando e abusando até de preceitos religiosos ainda não resolvidos nas instituições e muito menos na cabeça do povo.

A informação agride, pela internet, o ambiente livre dos sonhos, onde tudo pode, é possível e permitido, sem se importar com o rastro de destruição que segue na calda dessa informação, capaz de dizimar e reduzir a cinzas e ao pó sonhos inteiros da humanidade.

Vigiemos! Vamos nos atentar mais para o descontrole da informação pela internet, nos embasando mais e aprofundando e fundamentando nosso estudo antes de comprar a ideia. Vamos ser o nosso principal crítico. Não se aliene. Filtre tudo e absorva só o que é importante. Não importante só para você, mas, principalmente, para a coletividade. Não ponha crença em tudo e não se deixe levar pela ideia dominante de que imagem é tudo e que propaganda é a alma do negócio.

À internet pode-se tudo dizer, mas vamos nos dizer só o que realmente nos seja importante.  À nós e à sociedade, à nossa população, sem exclusões e ao Brasil como um todo. Vamos controlar o descontrole, respeitar e preservar os nossos valores, dizer não ao desrespeito e àqueles que estão nos desrespeitando. Vamos enfim nos importar com o que realmente importa e fim de papo!

Roberval Paulo