terça-feira, 19 de setembro de 2017

PAISAGEM DO MEDO - Roberval Paulo

PAISAGEM DO MEDO
Esta é minha realidade
É assim que preciso ver
Assim que preciso agir
Assim tenho que viver

Não posso fugir do medo
O meu medo é um outro ser
Um ser que está em mim
Um ser que não vou vencer

Não posso fugir do medo
O meu medo é minha sina
Sina do medo, um enredo
Que o medo a mim se destina

Vencer o medo seria
O mesmo que vencer a mim
Vencendo o medo, me venço
Serei vencido de mim

Então ao invés de vencer
Preciso o medo enfrentar
Saber c’ ele conviver
Junto a ele caminhar

Conhecer a tênue linha
Entre o medo e a coragem
Um começa, outro termina

E equilibra a paisagem.

Roberval Paulo

terça-feira, 22 de agosto de 2017

TEMPO - Roberval Paulo

O tempo da vida é curto pra se fazer o que se quer fazer
Aquela música que eu queria aprender
Aquele livro que eu queria ler
Aquele filme que eu queria ver
Vão passando por mim no meu tempo que não me dá tempo
Nesse tempo que não me dá tempo de viver.

O tempo da vida é tão curto que não me dá tempo
Que não me dá tempo de fazer um sonho se realizar
Porque você começa, começa, começa...
E antes do fim, já é tempo de parar
Parar e recomeçar a viagem
Que é o começo do fim que de novo se vai a começar.

O tempo da vida é curto para ver o sol se pôr
Ele nasce e sobe, sobe e se descamba a descer
E você vai subindo
E quando alarga o caminho
Já é hora de entardecer, de adormecer
A hora de ficar verde antes de amadurecer.

O tempo da vida é curto para ver o dia passar
Você trabalha, trabalha,
E quando a vida embala
E a moça se põe na sala à espera do seu querer
O pai assim recomenda; a lua já deitou renda
De manhã cedo, a venda. Tú tens que amanhecer.

O tempo da vida é curto pra se fazer o que se quer fazer
O sonho que eu sonhei. A vida que eu planejei
A estrada que não se chega ao fim
Ficou tudo preso no tempo
No tempo que se foi com o vento
Um tempo que não ficou em mim.


Roberval Paulo

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

ANJOS QUE CHORAM - Roberval Paulo

A dor do estupro invadiu o seio de Platão
E a maldade dos homens se espalhou pela
humanidade sem nome.

E matou sonhos, feriu corações,
aniquilou vidas
e tingiu de um róseo negro
o azul de céu e mar.

A menina ganhou pirulitos de maçã
e subiu saltitante as escadarias do céu.

E o desejo e ainda o prazer
foram sepultados na estupidez
do homem sem cor. Um túnel sem luz!

Mais a alma, na sua pureza de menina
subiu ao céu
No seu sorriso, o pirulito de maçã
e a doce e terna alegria que só no céu se revela.

O cheiro de flor inebriou todo o céu
E as lágrimas dos anjos formaram
as torrenciais chuvas de outono.

Roberval Paulo

VIAJANTE DO TEMPO - Roberval Paulo

Controlar o tempo
Queria que este não passasse
Devia este momento durar mais que um dia
Mas não estou preso a ele pois o mesmo não me pertence
Só as coisas que nos pertencem nos prendem
Pelo menos é assim que deveria ser.

Controlar o tempo
Podia este parar pra esperar minha
vida que não consegue acompanhá-lo
Se ele parasse eu o alcançaria
e descansaríamos um pouco, sentados numa pedra, levando
intuitiva conversa
para depois, descansados e realimentados
de brisa e de paz, prosseguirmos a viagem que muito dura.

Mas esse tempo não me houve
Controlar o tempo e só seguir pela minha vontade
que controlaria e guiaria os meus passos
e não pela vontade de outrem.
O Céu que me espera não sei se existe e, se
fantasias são verdades,
nem sei como acreditar em mim.

Controlar o tempo
Controlar o tempo que me fechou a porta
e nem adeus me disse, nem se despediu. Se tivesse
o dom e o poder de governar o tempo
um dia sequer
fecharia esta porta e guardaria
a chave em lugar que só eu soubesse, abrindo-a
só quando o dia, por sua vontade, decidisse se encher da manhã
que teria entrada franca em minha vida, com a permissão deste
mesmo dia.

Ah! Controle do tempo!
Porque não vens aqui ensinar-me como
se faz com esse tempo que só sabe andar.
Que caminha, caminha, caminha sem saber
pra onde, sem saber por onde, sem
haver direção no seu caminhar.

Escuta-me senhor do tempo
Só você e unicamente você poderá me ajudar
Mostre-me o caminho que leva ao sol e
ensine-me o segredo de não me queimar.
Leve-me pela estrada do norte, na rota do sul e do bem caminhar.
Que eu cruze rios sem me afogar.
Que atravesse montanhas sem de lá despencar.
E que, ao cair, que eu me levante e encontre
forças para continuar.
E que todas as barreiras e os obstáculos e as
curvas da estrada com suas ladeiras eu consiga vencer
pela persistência do muito esforçar.

E, senhor do tempo
Eu não posso parar
Eu não posso parar pois eu sei que ainda tenho
muitas flores para colher, muitos sonhos para perder, tanta
conta para contar.
Tenho a história inacabada, quanto espinho espalhado, os
que já foram pisados e outros mais
que aguardam por meus pés que nem meus são.

Senhor do tempo me diga
Se é eterno o caminhar?
Se encharcando a camisa, suando-se de baixo em cima,
correndo mais que a notícia, quase qual bala que mata, mais
que um golpe de faca lambendo
o vácuo do medo, pode-se uma dia dizer,
vou parar pra descansar?


Controlar o tempo
Ah! Quem me dera eu soubesse desvendar este segredo
Quisera eu não ter medo de sorrir, de ser feliz
E na passagem da vida amar mesmo, sem medida, compartilhar
os meus sonhos com quem quisesse sonhar, semear por onde eu fosse,
muito amor, muito sorriso, muita paz que eu preciso
tornar o mundo melhor. Deveras, levar alegria
a todas as gentes e a mim, a todos nós e a ti
que me lê e nem me conhece, mas, que como eu, padece
do não entender a existência, a razão do ser, das crenças,
as dores e os sacrifícios que a mestra vida nos cobra
sem explicação alguma, mas no tempo e na estrada
vamos nós a cavalgar.

A caminhar, a sonhar,
nos labirintos da sorte
construindo e conquistando, montando um cavalo alado
Eu e você, lado a lado
Destino fraco e do forte
Procurando a própria morte
Por onde o vento levar.

Roberval Paulo

A RAÍZ DO IRREAL - Roberval Paulo

Na sombra do som que se instalou em meus olhos
Na luz da manhã que anunciou o crepúsculo
Na fonte cansada que transportava a vida
Surgiu sua dor
As folhas se agitaram ao tocar os teus pés
O sabiá emudeceu ao sentir o teu canto
A lua se esquivou à tua presença.
E eu,
Corri em desespero pelos dias
À procura do teu encontro
Que perdi na noite passada

Na explosão bombástica que dizimou o mundo vida
Na fome que se instalou no seio morto da vida
Nas lágrimas verdes da mata em sua mortal cantiga
Me veio sua dor
As águas pararam para lhe dar passagem
O sol escureceu aos seus raios divinais
O tempo abriu as portas para que fosses ao vento.
E eu,
Parti extasiado pelo abraço de Vênus
A encontrar o teu amor
Naufragado nos braços do mar desprezo.

Na ilusão clarividente do dia que não anoiteceu
Na fantasia interminável da noite que não amanheceu
No acordar morto do sonho que não adormeceu
Chorei sua dor
O sol se fez permanente à tua chegada
A lua se mostrou clara à tua presença alada
O céu em constelação ornou o teu existir.
E eu,
Despertando em pensamento mórbido na estrada
Abracei o teu amor nesta fria madrugada
E a manhã abriu seus raios em vida plena e abundante

A Abundância da vida no amor plenificada.

Roberval Paulo

O QUERER-TE! - Roberval Paulo

Gosto de querer-te
                           em mim
Gosto de ver-te
                           assim
Completamente solta
Alheia a tudo

Ao vento
         Que lhe lambe os seios
Ao sol
         Que lhe doira a pela
À lua, que te invade
                           e te cultua

À mim,
         que de tanto ver-te
Mais de amor te quero.

Roberval Paulo

NO ESTRADAR DA INFÂNCIA - Roberval Paulo

Escrevi este meu sonho antes da noite acordar
Um sonho verde e vermelho mergulhado em sangue e tinta
Recordei a minha casa numa solidão retinta
A mocidade chegando pela porta do lembrar

E acordei quase sem eu, sem já ser eu, que desalento
Assim, misturando eu comigo, angustiado
Pus a mente lá distante a buscar os meus lembrados
Tanto fui longe que perdi meus pensamentos

Desalentado naveguei no meu sonho acarvonado
Onde deixei tanto riso e tanto sonho que nem sei
E nos dias já passados eu com medo cavuquei
O medo de perder o que nunca foi achado

Busquei o velho baú da mente dos meus guardados
Afugentei a poeira libertando a memória
E a caneta na mão e a mão e os olhos na história
Comecei a estradar a estrada do meu passado

No horizonte à distância do olhar, tudo ofuscado
Um verde desbotado se via lá no fim do mar
E era tanta légua e água o meu sonho a matizar
Que os meus olhos, meu caminho fez-se todo enluarado

Retornando ao começo da origem originada
Onde a saudosa saudade fez parar a consciência
Vi o terreiro e os laranjais no quintal da inocência
A rede embalançando uma paisagem aurorada

Disanuviando a nuvem que encobria minha lembrança
Disseminando o pensamento para além da serrania
Na nascente da tristeza eu vi brotar a alegria
E no verde ensangüentado descortinou a esperança

Rememorei tanta vida que eu vivi e nem lembrava
De minha mãe, seu riso terno e a máquina de costura
Noite adentro a costurar. De meu pai a formosura
A postura e a firmeza que minh’alma acalentava

E já outros dormidos no meu sonho perpassava
Na estrada o meu avô e o seu canto boiadeiro
O meu pai, a minha mãe e eu menino no terreiro
Perseguindo as borboletas, fazendo aquela algazarra

E os meus irmãos na caminhada a caminho da ribeira
Saltitantes, só meninos nas meninices da vida
Vagueando com os vagalumes à luz da fonte garrida
Borboleteando ao vento uma ciranda alvissareira

O rio da minha infância que aguacento me abraçava
E me espraiava em sua praia de areia algodoada
E me cantava as cantigas com sua voz aveludada
Rumorejando e levando meu ser que desabrochava

Era uma tarde de chuva, o horizonte escurecia
E a enxurrada na rua, cautelosa escorregava
E foi levando o meu tudo e fiquei só com o meu nada
E no espelho da memória desencantou a fantasia

Era ainda uma tarde nebulosa e atormentada
E o meu sonho, esfriado, noite adentro viajava
E a encontrar o inevitável todo o meu ser caminhava
E aquela ponte intransponível outra vez fechava a estrada

Ah! Se eu tivesse asas. Se as tivesse, eu voava
E no assombroso vazio do espaço eu reluzia
E todas as minhas noites eu clareava com dias
Para acordar o meu sonho em manhã ensolarada

Ficou desse tempo a dor de não poder nele voltar
Revive a alma a alegria cada recorte lembrado
As lágrimas caem do sonho p’ro real imaginado
E a rede embala o homem desse menino luar.

Roberval Paulo

SEMPRE SE MORRE AMANHÃ - Roberval Paulo

SEMPRE SE MORRE AMANHÃ - Roberval Paulo

A vida tem dessas coisas                                           
Dessas coisas que não se entende
Porque da vida, porque da morte
Porquê disso, porquê daquilo
Por quê? Por que? Porque?

É tanta coisa pra se saber
que até é melhor não saber
Se sabendo ou não sabendo
Vamos indo a morrer
é tudo que eu sei

Sei que nasce o sol todo dia
A noite é da lua, Ave Maria!
Mas amanhã me vou embora
Sempre se morre amanhã

Aquele passarinho que canta
Porquê? Há! Não sei
O gato pulou
O canto cessou
Porquê?
Não me perguntem

Não sei... Não sei... Não sei...
Quem saberá?
A terra suspensa no ar
No espaço, sem cordas
não cai

A força da gravidade
A falta de gravidade
Também não tem cordas
Mas, e daí? Estou ficando é maluco
Porquê se fica maluco?
Também não sei

Não sei... Não sei... Não sei...
O homem ganha a vida
A vende depois para a morte
Nada era antes
Do nada à vida
Ganhou um nome
E agora? Agora ele tem um nome
E depois? Ele morre

Não vou dizer o por que
Simplesmente por não saber

O céu é azul
Azul é a cor do infinito
DEUS mora no infinito
Pensei que lá fosse o céu

Se é... Se não é...
Não sei... Mais sei...
Que amanhã me vou embora
Sempre se morre amanhã

É que a vida tem dessas coisas
Dessas coisas que não se entende
Um pobre... Um rico... Um homem...
Um morre, outro morre, o outro também morre

È tanta coisa pra se saber
Que até é melhor não saber
Mas amanhã vou me embora
E nada levarei comigo

O sol, o pássaro, o homem
A terra, a lua, o universo
A vida em prosa e verso
O vento, o tempo sem fim

Por quê? Por quê? Pra quê?
Não sei nem quero saber
Sempre se morre amanhã.

Roberval Paulo

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Blog Roberval Paulo: LUA DOS AMANTES - O novo quando vem... - Roberval ...

Blog Roberval Paulo: LUA DOS AMANTES - O novo quando vem... - Roberval ...: Uma cantiga de vento enrubesceu os amantes E na moldura viajante dos olhos A noite vinha lá do fim do mundo A lua se escondia na...

LUA DOS AMANTES - O novo quando vem... - Roberval Paulo

Uma cantiga de vento enrubesceu os amantes
E na moldura viajante dos olhos
A noite vinha lá do fim do mundo

A lua se escondia na brancura da nuvem
E na sonoridade da alma
Um silêncio se ouvia
Um silêncio de fazer cantar os mudos

O som do amor se encarnou por toda a luz
E todas as bocas disseram o provar de corpos em êxtase

Um uivo abafou a imensidão da distância
E o prazer aquiesceu a alma enamorada

Os desejos ardem, convulsões desenfreadas
Sensações que se revelam
Na rima solta do verso

O ar cansado desmaia
Num respirar lento e cortante
E a forma disforme se renova

No formatar novo do novo.

Roberval Paulo

FORÇA MÍSTICA - Roberval Paulo

Existe uma força que é de nós desconhecida
Uma força expressiva que a tudo dá movimento
Uma força que é sentida, não se vê e não se toca
Força essa que é revolta na profecia do tempo

Há um mundo paralelo deste mundo que é palpável
Há mais mundos paralelos do que podemos prever
Há forças desconhecidas na galáxia que habitamos
E quantas outras galáxias devemos desconhecer?

A natureza é a mãe de todo ser existente
De toda coisa que existe, da vida, gente, ciência
A natureza é prenúncio, o germinar da semente
É um mistério Divino, de Deus a onipotência

O homem busca explicar-se ao construir sua ciência
Mas foi criado por Deus, sua imagem e semelhança
E desconhece esse Deus nesta santa ignorância
Não sabe do Criador ser nossa única esperança

De Deus é todo o poder, e glória e honra e amor
O homem tão semelhante se apega a desatinos
Construiu o egoísmo e ambiciona o poder
Constrói assim o seu fim ignorando o Divino

A vida, só, segue em frente e não retrocede nunca
Não precisa questionar, é só em frente seguir
Pois a vida, por si só, lhe mostrará o caminho

E você, sem conhecer, saberá pra onde ir.

Roberval Paulo

DESCAMINHO - Roberval Paulo

Tem hora que a estrada fecha
Tem vez que o caminho acaba
É aí que o rio enche
E não tem jeito, deságua
Deságua água no mundo
A quem quer, a quem não quer
E a estrada fechada
Em dilúvio é desmanchada
Indo ao revéz do moinho
E o caminho acabado
Se vai assim desaguado
Em outro novo caminho

O caminho que se abre
A estrada que continua
Mais seu humilde passante
Nunca mais será o mesmo
Será um outro do mesmo
Seguindo um outro caminho

E o passante, enluarado
Novo estradar aventura
Ainda mais caminhante
Ainda mais açoitado

Mais nunca mais será o mesmo
Novo caminho em começo
Endireitando-se o avesso

De um caminhar renovado.

Roberval Paulo

CONSTRUÇÃO NATURAL - Roberval Paulo

Se não for como eu falei
É bem melhor que nem seja
É melhor nem ser bastante
Pra não ficar bem lembrado
É melhor não ser amante
É bom que seja espontâneo
É preciso ser estranho
Pra se dar a conhecer.

É bom que saiba perder
Assim se aprende a ganhar
Na guerra em que for lutar
Lute por qualquer verdade
Nos becos dessa cidade
Quanta mentira escondida
Quanta gente destruída
E outras mais se perdendo.

O trem da vida correndo
Nos trilhos do seu destino
A vida em desalinho
Pede socorro a morrer
Não tem de não entender
Tudo vai se consumar
Mesmo que não concordar
Não é o que ninguém falou
Nem mesmo quem semeou
Ou deixou de semear.

É sol em qualquer lugar
Tempestade em qualquer casa
Pra voar tem que ter asa
Mas é fácil rastejar
Eu disse, eu vou falar
Tem que ser como eu pensei
São as coisas que eu não sei
Que me fazem entender
Que a vida pra não morrer
Precisa entender a morte
Não é mais como eu falei
É como Ele escreveu
A morte que Ele venceu
Não foi plantada na sorte
Tudo é como o vento norte
Tem direção natural
Existe a raíz do mal
Mesmo em meio a todo amor
O exército do desamor

É construção natural.

Roberval Paulo