sexta-feira, 17 de maio de 2013

SER E EXISTIR - Roberval Paulo

É assim, não se explica.
Nascer, viver e ser somente e nada mais.
Os dias chegam como se só vidas trouxessem
e vão-se em noites de sonhos por terminar.
A manhã rejuvenesce; a cada manhã sou mais velho.
O vento virgem da manhã torna mais velho quem por ele passa.
É que a manhã traz vida nova ao mesmo tempo que envelhece vidas já dormidas.
Os destinos se confundem nas tantas encruzilhadas e confluências do ser e do existir.
A vida, por si só, segue em frente e não se individualiza.
Vive de si mesma e não retrocede nunca.
Vive de si mesma, descompromissada e livre e além das comprovações científicas, porque a vida vive para todo  o sempre – viva – superior a tudo e a todos.
O resto é sobra, e nada, e morte, e inexplicável.

Inexplicável também o é, a vida, mas,
porque abraçá-la com suspeitas e dúvidas,
se o que vale é viver?
É acaso o dia maior que a noite?
Será a ciência a contraprova da fé? Ou vice e versa?
Não é só pelo milagre da vida que é permitido à ciência, existir?
Como por em dúvida a sua própria existência?

A vida vem da vida e traz em seu bojo, a morte.
Dualidade existencial e essencial.
Nascer e morrer. É a lei.
Nascer, viver e morrer, eis a lei e nos basta.

E tudo o mais é especulação.
Vida que segue sem explicação.
Para todo o sempre. Amém!

E que a terra nos seja leve.

Roberval Paulo

DE UM TRISTE SÓ, MAIS NÃO SOZINHO - Roberval Paulo


Meu canto é demente, carente, incessante
clemente por teu amor
sorridente das mazelas do acaso
arvoredo sombrio
pássaro em desatino
canto em desalinho
         de um triste só mais não sozinho.

E a vida encontra o meu canto
no deserto de um ser multidão
de vozes e sons caminhantes
murmurantes
à beira do caminho
na incongruência incongruente da pedra
sozinha, indo
ingênua confidente
         de um triste só mais não sozinho.

Andante dos teus sonhos
amante da tua cor
te perdi na tangência do destino
te beijo na boca de quem passa
confidencio-te norte em meu caminho
rio do meu viver em confluência
para além
muito além da inocência
linha reta, inconstante
constante vida
quase inexistente na
existência em teu caminho
         de um triste só mais não sozinho.

Roberval Paulo

ANGUSTIANTE ESPERA - Roberval Paulo


À noite, navegando
Sou um rio sereno
Leito manso e calmo
Silencioso no silêncio das tardias horas
Horas mortas da vida em sono de espera.

Se unir ao mar vai esse rio
Na lentidão angustiante dos dias
Às vezes revolto, carregando dores, bramindo
E por vezes, calmo
Soberbo e majestoso
Na alegria das flores e da vida.

À noite, o sonho amanhece
E o rio de minha alma  
                   só águas levando
Para muito além do
                            engenho do medo
Para onde meus sonhos
Um dia chegarão.

Vai meu ser e
Transporte este rio, que este rio
Sou eu
Sem o meu existir
E leve-me em suas águas
Para eu encontrar-me
Na reflexão dormente do meu travesseiro
Na noite do meu dia inteiro
No espaço vazio do meu ser que te espera.

Roberval Paulo

quarta-feira, 15 de maio de 2013

TERRÁGUA - Roberval Paulo



A terra precisa
Precisa da água
Mais não sabe nada
Nada, nada de água
A não ser que seus rios
Correm sem parar
A caminho do mar
Correm pra valer
E o mar os acolhe
Sem saber porque
Mais acolhe a todos
Que água é vida
E a terra vive


A água precisa
Precisa da terra
Pra ser dividida
E não ser só água
Mais nada ela sabe
Nada sabe de terra
A não ser que seus montes
Planícies e planaltos
Se alimentam da água
E impulsiona a corrida
Dessa mesma água
Que parada é morte
E correndo é vida.

Roberval Paulo




SÓ - Roberval Paulo


Sim, eu sei, não sou
O que penso ser
Sou, antes de pensar
O que realmente sou

E assim
Sei e não sei quem sou
Existo antes de mim
Sou eu sem saber se vou

Mas fui, acredito
Que não por mim, mas por ele
Eu vou voltar, tenho dito
A ser antes de mim,
Eu só

Eu só, que penso
Que penso e não sei se sou
Pra onde vão os meus passos?
O que fazer com essa dor?


Não sei! Não sou!
Esse é o caminho que vou
Sem identidade, mas sigo
A te buscar meu Senhor!

Me ensine a ser eu só
E livre-me meu Senhor
De ser em mim, um ser só.
        

                 Roberval Paulo

ELEMENTO NEUTRO - Roberval Paulo


Tudo o que vês
Fostes criado por ti
Cheiras e provas
São tuas criações
Sinta e ouça
A tua inteligência
E tudo que é teu
Não pertence a ti

Ainda que caminhes
Um dia hás de parar
E mesmo inerte o corpo
O espírito é movimento
Criastes a vida
Desconheceis a morte
Na morte tudo se encerra
Nova vida que começa

Tu vives e és tudo
Tendes o sopro da vida
Este o abandonas
E tudo o mais é só matéria
Se desintegrando
Disforme e podre e resto
Se reintegra à terra
Te tornas elemento neutro.

Roberval Paulo

terça-feira, 14 de maio de 2013

GIRASSOL - Roberval Paulo




 Giras que segue em frente
Giras e vais mas voltas
Sol no jardim da casa
Sol que gira
Girassol

Girar e ser flor e sol
Colher o sol no jardim
A beijar-me um ser de luz
Que brilha em si
Girassol

Girassol que o sol não gira
Sol que gira girassol
Eu e o jardim
Sol em mim
Assim colhi
Girassol pra ti.

                  Roberval Paulo

INVOCAÇÃO! - Roberval Paulo


Lampejos de um clarão azulado
Invoco teu semblante amigo
Assombra-me teu querer antigo
De no tempo ser somente amor
Desencontro-me deste teu fervor
Faça-me habitar a tua tenda
Que ao soneto não se dê emenda
E à sinfonia, faça transparente
Faça valer o império da semente
Na plantação do teu sublime amor

Clarão num céu incandescente
Vejo luz e que seja a luz da vida
Me revisita a mais doce cantiga
O meu ser já se refaz em calor
Afogueado por tão sutil ardor
Calor de um sol que acende a alma
Calor que o espírito acalma
E o coração mais duro enternece
Dia nos meus dias que amanhece
Orvalhando resquícios d’minha dor

Clarão que responde pela vida
Me diz o quanto mais devo amar
Como é a vida do lado de lá
Onde a paz se completa em louvor
Os anjos que só falam de amor
Quando mesmo irão me abraçar
O caminho que tenho a estradar
Onde é que me vem a tua mão
Em verdade e vida além razão
Eis- me aqui, sou teu servo Senhor!

Roberval Paulo

segunda-feira, 13 de maio de 2013

TEMPO AO VENTO - Roberval Paulo


Nada melhor que o tempo
O tempo é senhor de tudo
Presente que veio a tempo
Mudando o tempo no mundo

Em tempo Deus fez o mundo
Com tempo pra descansar
E descansando no tempo
Fez todo o tempo passar

No tempo passa-se a história
Em tempo pra ser contada
Do nada vem-se ao tempo
Do tempo volta-se ao nada

Tudo se fez pelo tempo
Em tempo nada se fez
E em frente o tempo seguia
Fazendo em tempo a escassez

É tempo, é bom acordar
Plantar amor pelo tempo
E quando o tempo acabar
Partir do tempo com o vento.

Roberval Paulo

O INDIZÍVEL INVISÍVEL - Roberval Paulo


                                                                           “Viver é muito perigoso."
                                                                                     (João Guimarães Rosa).

O mundo já não canta o amor
A experiência se faz com sangue
O pai já não chora seus filhos
A impotência o faz insensível
À noite, o sonho amanhece
E no ciclo vicioso do poder
A ambição gera filhos
Verdadeiros pais do egoísmo.

Quem quiser que invente a vida
Mas cuidado!
Muito cuidado!
Os laboratórios estão falidos
Sequiosos de entender a vida
Caminham para a morte.

Não se enganem
Clone é só uma cópia sem a essência
Retrato do original com muitas cifras a mais
A matéria prima do espírito
Não sabe a metafísica
E viver não é só perigoso
É muito mais que isso.

A vida vem da vida e a vida do nada
O nada não se vê e não se materializa
A essência da vida é certa e invisível
Invisível e não sabida
O homem só sabe o que vê.

A ciência é visível
E o invisível é maior que tudo
Diante do qual
Toda ciência perecerá.

Roberval Paulo

SE - Roberval Paulo

Se
Nessa vida de cores
As coisas se tornarem
Pretas demais
Abra bem os olhos
O preto
É só a cor do escuro
Isso quer dizer
Que a luz existe
E com ela, as cores
É só procurar.

Se
Nesse mundo de sonhos
Os sonhos se tornarem
Pesadelos demais
Abra a mente
Seus pesadelos
São da tempestade
E tenha certeza
Ela passará
E com ela, as dores
Acredite e verá.

Se
Nesse mundo de grana
Sobrar pra você
Só lama demais
A solução
Não é uma brahma
É a concepção
De ser e existir
Se não desistir
Terá fim todo drama
Flores vão surgir.
  
Se
Nessa onda do se
De tudo poder
Se o se deixar
Esqueça o se
Faça acontecer
É preciso dizer
O se justifica
Os nossos fracassos
Se sobrar só o bagaço
O se proverá.

Se... já não há mais se
É tarde pra chorar.

Roberval Paulo

VÔO PENSAMENTO! - Roberval Paulo


Vôo! pensamento
Vôo tão longe que nem passarinho me alcança
Experimento a liberdade plena e o prazer de pousar
Em quaisquer lugar e de estar
Onde a imaginação me levar.

Vôo! pensamento
Imagino a vida vivida mais que combatida
Amada como uma dádiva, que a vida é uma dádiva
Nos dada de graça
Não se paga imposto pra nascer, só é preciso amar.

Vôo! pensamento
Me leva a crer que a humanidade tem jeito
Que o amor não morreu por completo
Está só adormecido no leito escuro do materialismo
Em estado de letargia.

E ainda vôo! pensamento
Me diz que é preciso acordar o amor
O amor é o dom maior, o sentimento mais nobre
Livre de impostos e taxas
Ame assim, de graça.

Do amor, a fórmula em si
Arte de ser e existir
Manhã de orvalho na flor
No peito a alma criança
Vida, vôo! pensamento
Na igualdade da forma
És de DEUS, “fratura exposta”
Sua imagem e semelhança.

Roberval Paulo

O MAR - Roberval Paulo


               
O mar me faz bem, me faz muito bem. 
Ele é tão grande, tão misterioso.
Da praia olho e ele me atrai.
Resisto e não vou, me sinto forte também.
Luta desigual, mas equilibrada.
Ele bate forte na praia e me assusta.
Solta um rugido.
Parece querer me intimidar.
Eu resisto.
Olho bem em seus olhos e o sinto triste.
Majestoso, ele vem em nova investida
e lambe meus pés.
Sinto o frescor das suas águas
e me embriago
de o ver assim tão próximo,
tão meu,
tão aos meus pés.

Roberval Paulo

SE AVEXE NÃO - Roberval Paulo


                                                                           Para Luciene Marques e Rosalina Rodrigues -              
                                     Deferência esta que não se busca entender, só é preciso ter.

Se avexe não
A canção já disse um dia
Que o caminho se fechou
E chegou lá quem nem ia

Se avexe não
A saudade apertou o peito
O sol veio e se foi
E tudo ficou do mesmo jeito

Pra ir nessa estrada e chegar
Seja grande ou pequeno
Lavrador ou seu doutor,
Tem que suar

Pra esse caminho finalizar
É preciso suor, muito suor
Mas é preciso mais ainda seu doutor
Muito amor, mais de amor, tudo de amor
Vencer qualquer espécie de dor
Sinônimo do dom de amar

Se avexe não
Ter coração bom não é não se afligir
Ter força no peito não é a vida agredir
O meu cão me ama tanto e nem sabe falar

Se avexe não
O titanic afundou, sucumbiu um império
Um filho de carpinteiro se fez em eterno
Se avexe não...imprescindível é amar.

Roberval Paulo

MINHA CIDADE! MINHA VIDA! - Roberval Paulo


Sou eu, de Araguaçu, na ausência ou presente
Mas inexplicavelmente, não nasci em Araguaçu
Sou de uma família de onze irmãos, todos Araguaçuenses
Só eu, curiosamente, fui nascer distantemente
Em um lugar que não é meu.
Mas leitor, não sou farsante
Nem tão pouco retirante
Foi mesmo assim, desse jeito
Que toda a história se deu

Minha naturalidade é de São Miguel do Araguaia, estado de Goiás
Mas não venham me dar uma vaia
Por não ser do meu lugar
Araguaçu foi Goiás, hoje é Tocantins
É dali que sou pois é dali que eu sinto ser
É ali, em Araguaçu, onde plantei o meu sonhar

Ali andei os meus passos primeiros
Ali cresci e me criei e ali tive os meus primeiros sonhos,
As primeiras ilusões e desilusões
Até o primeiro amor que se foi na marcha do tempo
Era paixão, eu acho, senão, não teria se ido
Pois o amor não vai com o tempo mesmo quando sopra o vento
O amor permanece atento mesmo quando esquecido.

Mais ali me identifico; sou autenticado em Araguaçu
Plantei na rua vinte e um todos os meus sonhos
Que não foram comigo
Não sei ser de outro lugar que não o meu chão
E o meu chão, o meu chão é aquele que eu sinto que é meu
Então, minha Araguaçu!
Sou tão teu quanto tu és minha
És minha quanto me sou teu
Crescemos juntos e assim foi por muitos e muitos anos...
Quanto dos teus caminhos e becos; dos teus córregos e rios e fontes
Teus quintais e varandas e frutos; laranjeiras, mangueiras, goiabeiras,
Deus nos acuda!  
E praças e esquinas e meninas; e bola e futebol e sonhos e sonhos...
Quanto dos teus caminhos conheço eu?
Eu menino em seu universo
Querendo e aprendendo a tão sonhada ordem e progresso
Neste pequenino pedacinho de Brasil que é todo meu.

Em pequeno te vi tão grande e meiga e graciosa
E tu eras tão pequena. Mas, na tua generosidade,
Me esperava para crescer contigo
E o tempo se encarregou de nos fazer assim, como somos
Eu, homem, recordando sonhos de outrora
E tu, cidade frondosa, cuidando os teus frutos
Carregando-me por teus caminhos
Trazendo-me ao meu começo.

Oh! Minha linda e diviníssima Araguaçu!
Afastei-me de ti; o vento me levou
Aquele vento do moderno que nos faz distante de tudo que amamos
Aquele vento que nos leva a trilhar caminhos outros que não os nossos
O vento da verdade e ao qual se apega para sobreviver
O vento do Divino que nos ensina: somos seres de raíz
Mas a rama se vai, e sobe e desce montanhas,
E cria e abandona cidades
Faz e desfaz caminhos
E cruza rios e torna a cruzá-los
E sonha o trem dos destinos
Embarca no trem da vida à procura do que nunca perdeu
Galopa o corcel das noites e dorme em águas já passadas
Se alegra com tão pouco e chora... chora...
Chora com o muito que a necessária viagem jamais trará

Só tu, oh! Minha musa inspiradora
Só tu, oh! Minha linda Araguaçu, não me deixou
Para ir em busca do que não é teu
Tu sabes o teu destino e sábia e magestosa que és
Cresce e se desenvolve pela música do vento
Não o perseguindo. E, consciente e saudosa
Espera pelo filho ingrato que a abandonou
Que a abandonou ao sonho do nada
Que a abandonou por não conhecer-te, mãe sublime que és
Que a abandonou pelo engano do mundo e, quanto engano.
Mas tu não o desprezas, qual mãe zelosa
Tu não me desprezas. A mãe não despreza o filho, mesmo o ingrato
Chorastes na minha ausência e tuas lágrimas te banharam em cores
Nas ruas do teu corpo, meu pranto, ainda distante, corria, alargando os                                                                                                            caminhos
Minha saudade te coroava de flores e meus sonhos
Faziam crescer e fortalecer as tuas edificações
Mesmo longe, estava contigo, pois só tu não me abandonastes
E meus olhos, do outro lado do universo, chorava por ti
E minhas lágrimas, vazando o véu do infinito, encontravam o teu chão
E escorria pelas tuas casas, colorindo-te
Não só a ti, mais a tua gente.
Coloria-te inteira e aos teus jardins e campos;
Tuas pastagens e animais; teus rios e sonhos
Tuas flores e pardais; teus quintais e varandas
E ainda o teu povo, tão meu e eu não mais conheço

Oh! Minha menina e sonhadora Araguaçu!
Podes o peixe deixar o rio?
Podes o mar se largar da terra e cair pelo espaço a fora?
Podes assim o dia se desprender da noite e ser só dia?
Podes o filho perder seu cordão umbilical antes do nascimento?
Podes ainda oh! Araguaçu, a rama ir sem a raíz? Eu fui
Eu precisava ir
Mas como ir sem levar-te?
Mas como levar-te se tu não se dá às viagens?
Hoje reconheço que não podias ir comigo
Não querias te perder igual a mim
O teu desejo era um só. Querias-me junto a ti.
E, no teu silêncio, aconselhou-me a não partir, mas,
O filho não obedece a mãe e se vai... se vai pela vida
E sofre e chora, e tropeça e cai, e se levanta
E cai muitas e muitas vezes e mais se levanta
Pois ao longe, escuta a tua voz dizendo vem
É a mãe que não se cansa de chamar inclemente pelo ingrato filho.

Oh! Araguaçu!
O tempo passou e os nossos sonhos foram distância em muitos anos
Mas um dia, cansado da estrada e de terras alheias
Aprumei meus sentidos na linha do horizonte e ouvi tua voz
Que ainda chamava por mim
E a tua voz vi trêmula e chorava a ingratidão
Do filho que cresceu em teu ventre
Chorei sozinho e distante, e, minhas lágrimas,
Formaram o rio que volta à nascente;
O rio que me trouxe ao meu passado e à minha raíz
Estou de volta oh! minha vida. Estou de volta minha doce e terna mãe
Voltei minha querida. Voltei a ti minha inebriável Araguaçu
Minha cidade e meu mundo; minha estrada e minha luz
Meu sonho agora real; meu começo e fim eternos
Teu abraço caloroso me acolhe e me sinto tão aquecido que parece que sou                                                                                          só prazer e enlevo
Teu colchão macio descansa meus errantes sonhos que vagaram por tempo          e lugar
Só encontrando consolo em ti
A ti voltei, de onde não devia ter saído. Não escutei, em conselhos, o silêncio de mãe.

Oh! Araguaçu
Tuas esquinas, minhas irmãs. Tuas noites, minha namorada
Teus rios, meus sonhos. Tuas casas, meu sono
Teus campos, meus olhos. Tuas montanhas e planícies, minha viagem
Teus jardins e dias, minha valsa. Tuas flores e passarinhos e tuas cantigas
e sertões, meu ninho e meu acalanto.

Por isso oh! minha Araguaçu! Rogo e peço ao meu Deus
Guardai e protegei a todos nós meu Senhor
E aos teus campos e sonhos e vozes com todo amor
A ti e a todos os seus de todo o coração
E elevo a voz à nossa Santa Padroeira
Do início à vez derradeira
Nossa Senhora da Imaculada Conceição
Rogai por nós Santa Mãe de Deus
Ave Maria cheia de graça o Senhor é convosco e bendita sois vós entre as                                  mulheres
E bendito é o fruto do teu ventre...
Esta é e será oh! Araguaçu
A nossa terna e eterna, primeira e última canção.

Oh! Minha Araguaçu!
Oh! Minha querida e cidade e amada Araguaçu!
Como posso viver sem ti? Como pude viver sem ti?
Aqui estou e não arredo pé. Não mais
Aqui estou e aqui fico para o inevitável
Juntos assim, somos nós, depois de tamanha ausência
Juntos assim, seremos, depois de tanta distância e estrada e sofrer
Juntos assim, eu e ti
Um amor que não se perdeu; um sonho que não morreu
Vidas que se vão eternamente
Começo e fim dos sonhos eternos
Eternos como nós que de tanto sonharmos ainda nem nascemos
Estamos só começando oh! minha Araguaçu
O caminho dos nossos próprios sonhos
Que de tanto perambularmos em sonhos alheios
Tornamos à origem do nosso interior
Interiozando e juntando, mais uma vez, nossas vidas
Em prazeres e alegrias e sensações desenfreadas de amar e de sorrir
Enquanto o trem veloz do destino, ordeiro e cruel, manso e perverso
Descarrila em sua jornada rumo ao incerto, assoviando a música do tempo
Cuidando e levando todos os nossos sonhos
À humanidade já desumanizada.

Oh! Minha doce e terna enamorada e iluminada ARAGUAÇU!
Não devia ter me afastado de ti.

Roberval Paulo